Alexandre Garcia
27 de abril de 2018 - 11:09

Unidos contra a lei

Por 6 a 5, o Supremo recusou embargo para livrar Maluf do cumprimento da pena de 9 anos e 10 meses...

Por 6 a 5, o Supremo recusou embargo para livrar Maluf do cumprimento da pena de 9 anos e 10 meses, por crime no tempo em que era prefeito de São Paulo, há quase um quarto de século. O advogado de Maluf fez, da tribuna, um desabafo: “Tivemos mensalão e lava-jato, mas o rigor da lei caiu sobre Maluf”. Soou estranho, porque o mesmo advogado defendeu políticos nos dois escândalos e ficou parecendo que as penas aplicadas a seus clientes foram brandas em relação à punição a Maluf. O mesmo advogado defende José Dirceu, que está sentenciado a mais de 30 anos. As pessoas devem estranhar que um mesmo advogado possa defender duas pessoas tão antagônicas quanto Dirceu e Maluf. Não estranharia se lembrassem das fotos relativamente recentes de Maluf e Lula juntos, quando o ex-presidente foi visitar o ex-governador na mansão de Maluf, nos jardins.

As pessoas hão de pensar que nada os une e tudo os separa. Mas esquecem o quanto a Lava-jato os une. Pois os mesmos que na campanha eleitoral fizeram discursos pela ética e contra a corrupção; os mesmos que defenderam a Lei da ficha-limpa; os mesmos que foram tão contra a corrupção, agora estão unidos pela própria sobrevivência. Unidos contra a Polícia Federal, contra o Ministério Público, contra Sérgio Moro, contra o Tribunal Federal Regional de Porto Alegre, unidos contra ministros do Supremo que negam liminares, embargos e habeas-corpus, unidos contra juízes do Supremo que são favoráveis à prisão depois da segunda instância. E, pior que tudo, estão unidos em apoio a condenados por corrupção.
Não que estejam vivendo uma fantasia, como essa da perseguição política, do julgamento político. Não; estão vivendo uma realidade na qual um grupo de agentes revolucionários da lei decidiu deixar de lado a cultura do engavetamento, do medo de enfrentar os poderosos, da hipocrisia no todos são iguais perante a lei. Deram uma esperança aos brasileiros que já cansaram de viver num país de fantasias. Mas cabe aos eleitores a responsabilidade de não votar naqueles legisladores que no Congresso tentam enfraquecer uma lei de iniciativa popular, como a da ficha limpa e, mudando outras leis, almejam tirar poderes da polícia e do ministério público.

A corrupção e o crime comum que nos fustigam ainda precisam de leis menos lenientes e de justiça mais ágil e, em consequência, de mais penitenciárias para evitar que continuem nos roubando e matando. Somos o país em que políticos não iam para a cadeia. E lá estão agora um ex-presidente da República, um ex-presidente da Câmara, um ex-Governador, entre outros. Tínhamos a fama de que grandes empresários jamais iriam para a prisão, mas foram para as grades o maior empreiteiro e os donos do maior frigorífico, por exemplo. Tínhamos fama de Justiça morosa, mas aí estão a 13ª Vara de Curitiba e o Tribunal Federal da 4ª Região a dar exemplos. Mas ainda há o foro privilegiado, as imunidades, os benefícios para os criminosos mas não para as vítimas deles – mas isso é com você, eleitor que vai escolher os legisladores.

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