Alexandre Garcia
07 de janeiro de 2020 - 16:25

Terremoto no Irã

No fim de semana, a terra tremeu no nordeste do Irã, na magnitude 5,8 da escala Richter. Mas a morte de Qassim Suleimani foi um sismo em grau máximo da escala.

No fim de semana, a terra tremeu no nordeste do Irã, na magnitude 5,8
da escala Richter. Mas a morte de Qassim Suleimani foi um sismo em grau
máximo da escala. O Chefe da Guarda Revolucionária da teocracia iraniana
era também planejador estratégico e tático para controle do poder no Líbano,
Síria, Iraque, Afeganistão e Iêmen, para cercar Israel e enfraquecer outros
aliados dos Estados Unidos, como a Arábia Saudita. O Hezbollah no Líbano se
tornou um estado dentro do estado. Os Xiitas na Síria, os Houthis no Iêmen, o
Hamas, o movimento Jihad Islâmico, eram instrumentos para Suleimani, que
usava árabes e afegãos para não constranger as forças regulares do Irã em
missões alheias à defesa de seu país.

Parecia um herdeiro de Xerxes, filho de Dario e neto de Ciro, a dinastia
que fez da Pérsia, hoje Irã, a grande potência que dominou o Oriente Médio da
antiguidade, até que o macedônio Alexandre, o Grande, destroçasse o império.
Não parece sonho imaginar que o objetivo de Suleimani fosse o reerguimento
do Império Persa. Sua presença ia das praias do Mediterrâneo ao Golfo
Pérsico. Estava dentro do Iraque quando foi atingido, depois que os
americanos, por falta de decisão, adiaram o momento de “puxar o gatilho”,
embora tivessem tido outras oportunidades para lançar o ataque.

A decisão de matar Suleimani não é um desafio dos Estados Unidos ao
Irã; é um aviso e uma ameaça. O governo americano não está preocupado
com a pesquisa nuclear iraniana; já sabia que acordos só seriam cumpridos no
cerimonial. Israel vem monitorando o programa nuclear do Irã, pois disso
depende a sobrevivência do país que se fundou com sangue e se mantém com
sangue e vigilância. Suleimani era a fonte de foguetes que sempre ameaçam
Israel por todos os lados. Ele é dessas figuras de retaguarda e front, sempre
presente a incentivar seus comandados. Por isso, sua morte é um desfalque
maior que a de Bin Laden ou do líder do Estado Islâmico. No Irã, só estava
abaixo do Aiatolá.

Seus seguidores atacaram petroleiros; cobriram de mísseis a maior
refinaria da Arábia Saudita, mataram quase mil americanos no Iraque. E o
governo americano esperou. Mas o recente ataque à embaixada em Iraque,
onde estava Suleimani, fez Trump dar a ordem de fogo. Até o momento em que
escrevo, não vi manifestações fortes da China ou Rússia. Cada potência
respeita os interesses da outra. Americanos não se meteram na Ucrânia ou em
Hong Kong. O Irã não ganharia a guerra, mas pode fazer uma boa negociação.
Só não pode controlar movimentos que ficaram órfãos de seu comandante e
inspirador. Pode haver vinganças de um lado, com punição imediata por parte
dos americanos. Mas não haverá guerra mundial, como catastrofistas de
plantão falam. Se houvesse, duraria apenas um dia e acabaria.

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