Alexandre Garcia
26 de abril de 2017 - 14:30

O Direito de Espernear

Lembram da cena do Garotinho esperneando para não ser levado à penitenciária?

        Vocês se lembram da cena do ex-governador Garotinho esperneando para não ser levado à penitenciária de Bangu, em novembro passado? Pois o que se vê hoje, depois da publicação em áudio e vídeo e a cores dos enfáticos e eloquentes depoimentos da Odebrecht, é uma multidão a espernear. No Congresso Nacional e fora dele. Governadores, deputados, senadores, políticos de vários mandatos e partidos, ex-detentores de poder e de propinas, ex-presidentes da República, ministro do TCU, todos estão esperneando e até aqueles que sabem que ainda vão ser citados, quando aparecerem outros depoentes de outras empreiteiras, ou sobre outros organismos estatais, porque a podridão vai muito além da Petrobras.
        É um direito, espernear. Jus sperniandi – diz a gozação em suposto latim de Direito Romano. A forma de senadores espernearem é inventando uma atualização da Lei do Abuso da Autoridade, de 1965, tempo do presidente Castello Branco. Só que a lei da época é para proteger o cidadão; o projeto de hoje é para proteger os investigados na Lava-jato. Autor do projeto: Renan Calheiros. Relator: Roberto Requião. Pronto, aí está a marca genética do projeto. O objetivo é intimidar a Polícia Federal, o Ministério Público e o juiz Sérgio Moro e seus colegas. 
        A forma de dentro do Ministério Público se agir contra a Lava-jato é impedir que as investigações contem com o efetivo necessário de procuradores para tocar as ações com a acuidade e celeridade necessárias. A subprocuradora, que sonha com o lugar de Janot, propôs que mais de 10% do efetivo não possam ser requisitados. Para a Lava-jato, é claro. O argumento é que mais do que isso prejudicaria a atividade de rotina. Se você estranha essa vontade de gente no Ministério Público de atrapalhar a Lava-jato, então não conhece o subprocurador que já foi Ministro da Justiça e é um militante altamente ativista e emocional pró PT, Dilma e  Lula. 
        Por falar em Lula, a forma de ele espernear é insistindo na impossível candidatura a presidente em 2018, no que é seguido pelo direito de espernear da CUT e do PT. É uma tentativa de mostrar que a Lava-jato é só perseguição política para evitar uma candidatura vitoriosa. Espernear é um direito. De negar tudo, como o marido de batom na cueca. Os depoentes são todos mentirosos e combinaram as mentiras, porque um depoimento se enlaça com o outro e todos se completam. E ainda virão as provas. Todas, é claro, serão mentirosas, fabricadas para aliviar as penas  desses loucos empreiteiros que pagaram propina sem ninguém pedir. E conseguiram pagar porque os beneficiados aceitaram. Tudo parte do direito de espernear, como Garotinho rumo ao presídio.

 

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