Alexandre Garcia
BOLSONARO E HADDAD
Os dois avaliam agora quais seriam as vantagens e prejuízos em ir a debate.
Alexandre Garcia
Quando o time está perdendo, demitem o técnico, a torcida vaia a diretoria, e bate o barata voa. Parece estar acontecendo isso com a candidatura de Haddad. Resolveram tirar Lula, trocaram a cor da camisa do time e receberam vaia por isso. A militância chamou o candidato de traidor, e o suposto aliado, o ex-governador e senador eleito Cid Gomes, irmão de Ciro, chamou a militância de babaca. Como a força de Andrade no Nordeste se chama Lula, separar Lula do seu preposto só permitiu que o adversário crescesse na única região em que Haddad está na frente. Para piorar, Haddad recebeu o apoio e palavras simpáticas de Fernando Henrique, o que deixou perplexos os petistas mais fervorosos. Para culminar, Haddad chamou de charlatão o líder da Igreja Universal, Edir Macedo, que tinha dado apoio a Lula e Dilma em eleições anteriores. Referindo-se ao bispo, o professor Haddad ainda tropeçou no latim: Citou a frase auri sacra fames como “aura sacra fames”. Trocar o genitivo pelo nominativo plural faz muita diferença e a frase fica incompreensível. E o candidato crente no marxismo, como ele próprio me disse há anos, ainda tomou comunhão com sua vice Manuela Dávila, que recém havia se declarado não-cristã. Tudo isso subtraiu em vez de somar.
Bolsonaro, por sua vez, recebeu o apoio público do líder da Ku-Klux-Klan americana, falando em supremacia branca e desprezando os negros brasileiros. O candidato renegou o apoio imediatamente, mas o episódio confirmou a mensagem que tem sido passada ao eleitorado, deixando muita gente com o pé atrás e o cabelo em pé. Por outro lado, o capitão tem passado por apuros com seus companheiros que já estão fazendo declarações como governo, esquecendo-se de que, nesta altura da campanha, falar é prata e calar é ouro. Muito cedo para festejar, mesmo com a inversão das rejeições; antes, Bolsonaro era mais rejeitado que Haddad; agora as pesquisas mostram que a rejeição de Haddad subiu e a de Bolsonaro caiu.
Os dois avaliam agora quais seriam as vantagens e prejuízos em ir a debate. Bolsonaro ao ir pode dar de presente mais exposição a Haddad mas, por outro lado, pode adotar para Haddad a ofensiva que usou, com êxito, nos programas de entrevistas e debates a que comparecera. Haddad desafia Bolsonaro para o debate e o chama de covarde. Mas, para o candidato do PT certamente é melhor que não haja debate, porque ele é o mais frágil. Já pensou ter que explicar a perda de 12 milhões de empregos, a maior recessão da história, o maior escândalo de corrupção desde o Descobrimento? E como explicar que quer votos para corrigir o que seu partido fez? Para Bolsonaro, sem esse passado pesado, fica mais fácil dizer que em 27 anos de política ganhou experiência e não se contaminou. O risco de Bolsonaro é frustrar os que querem o fim da bandidagem, ensino coerente com valores familiares e recuperação ética da política. Haddad já está tendo que dar satisfações à militância do PT e Bolsonaro ainda passará pelo crivo dos seus eleitores, depois que se confirmarem nas urnas o que as pesquisas estão mostrando.