Alexandre Garcia
AGORA É CINZA
Muito simbólico que em plena Semana da Pátria, um repositório de raízes do Brasil tenha sido reduzido a cinzas. Como bem identificou o New York Times na primeira página, Negligência, depois Chamas...
Muito simbólico que em plena Semana da Pátria, um repositório de raízes do Brasil tenha sido reduzido a cinzas. Como bem identificou o New York Times na primeira página, Negligência, depois Chamas. O Museu Nacional, instalado no Palácio Imperial onde moraram Dom João VI, Pedro I e Pedro II, é administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – que destina, pasmem, pouco mais de 500 mil por ano para manter um dos lugares mais importantes do País. O reitor, pasmem também, ainda tentou empurrar a responsabilidade para os bombeiros, que não encontraram água nos hidrantes do Palácio. O museu não tinha brigada contra incêndio nem equipamento anti-fogo. Por algum motivo, a UFRJ, que tem autonomia financeira e orçamentária, não deu ao Museu a atenção que ele merecia. Guardadas as proporções, é como se a Itália não desse importância a Florença.
Ainda não se sabe se foi um acidente ou um crime para encobrir um roubo. Mas crime foi, de qualquer forma, de lesa-pátria, de desleixo, de omissão. Um crime que destruiu patrimônio histórico, arquitetônico, científico e artístico do Brasil e da Humanidade. Destruiu algo que cada geração deveria legar às seguintes. As gerações atuais ficam devedoras desse vácuo entregue aos brasileiros de amanhã. Fico imaginando se esse crime de omissão fosse praticado na China – se alguém fosse responsável por acidente que destruísse os guerreiros de terracota no Mausoléu Imperial. Adivinhem qual seria a pena para a incompetência e negligência.
Com o miserê destinado ao mais importante museu do país, e ao Paço Imperial, não há como não fazer comparações. Pela Lei Rouanet, o dinheiro destinado a shows de artistas que não precisam de ajuda, a livros de poesia ou de fotografia, a exposições de gosto esquisito, soma quase 60 milhões de reais – o suficiente para manter o Museu, com base na proposta de orçamento da UFRJ, por 99 anos. Imaginem os milhões desviados pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral; imaginem se as joias da mulher dele tivessem sido doadas para o Museu. Pois o repositório de raízes da nação mereceu menos que trocados dos corruptos condenados na Lava-Jato. O principal foi para sustentar folhas de pagamento inchadas e com poucos resultados.
O ministro da Educação disse que o Ministério “não medirá esforços para auxiliar a UFRJ a recuperar o Museu”. Recuperar o quê? Quando? No Juízo Final, quando ressuscitarem a nossa Luzia e as múmias? O presidente Temer, lembrando o Conselheiro Acácio, de Eça, chamou a tragédia de “perda incalculável” e o governo anunciou, esta semana, que o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica vão prover verbas para os museus e que o Itamaraty vai buscar ajuda externa, assim como vão chamar entidades empresarias e bancos privados para ajudar. Será que vão lembrar disso dentro de 30 dias? Toda essa saliva me faz lembrar de um velho samba: Agora é cinza; tudo acabado e nada mais.