Alexandre Garcia
12 de setembro de 2018 - 15:47

O PAÍS DAS DÚVIDAS

Um dia depois da divulgação do IBOPE que mostrou Bolsonaro liderando as pesquisas e na véspera do Dia da Pátria, a campanha foi tingida de sangue.

Alexandre Garcia

Um dia depois da divulgação do IBOPE que mostrou Bolsonaro liderando as pesquisas e na véspera do Dia da Pátria, a campanha foi tingida de sangue. Em meus quase 78 anos de vida, nunca tinha visto violência assim em campanha presidencial. E, ironicamente, a vítima foi exatamente o candidato que promete combater os criminosos para haver menos vítimas. O agressor, formado em Pedagogia, logo recebeu o apoio de quatro advogados, dois dos quais chegaram de jatinho de um deles. Tinha quatro celulares e um computador, mas estaria desempregado. Por sete anos, fora filiado ao PSOL. Sua defesa alega desequilíbrio mental, o que não deixa de ser plausível, pois se for um fanático é um desequilibrado.

O episódio pode ter consequências depois do resultado das eleições. Se Bolsonaro for eleito, podem alegar que foi por causa da facada; se não for eleito, podem alegar que foi a facada que o tirou da campanha. O Comandante do Exército foi quem lembrou essa possibilidade, em entrevista ao Estadão. Como li muita literatura policial, fico pensando se esse atentado não teria dado errado, com dois sobreviventes: a faca não atingiu o coração e o candidato não morreu; e o agressor foi entregue à polícia sem ter sido morto. Agora está num presídio federal, para evitar queima de arquivo e a polícia, no momento em que escrevo, ainda pesquisa o conteúdo dos celulares, do computador e a movimentação financeira do agressor.

Uma campanha tão judicializada quanto esta, tampouco nunca vi, desde que nasci. As pessoas se comportam como se não soubessem ler. Está escrito na Lei da Ficha Limpa que condenado por colegiado está inelegível, mas uma sucessão de recursos contesta a lei. Se um jovem de 20 anos pedir registro de candidatura à presidência da República, estaria indeferido, porque a Constituição estabelece a idade mínima de 35 anos. Mas até isso, quem sabe, seja discutível no Brasil. Afinal, a maioria do Senado fingiu não saber ler e separou da perda do cargo da Presidente Dilma o “com inabilitação por oito anos para o exercício de função pública”. Já em Collor, aplicaram a inabilitação num ex-presidente que já havia renunciado. É o país dos improvisos, dos casuísmos e da consequente insegurança jurídica.

Domingo, na missa, ouvi no evangelho de Marcos em que Jesus recomendou com insistência que ninguém contasse que ele havia curado um surdo. Esta semana ouço com insistência que a Justiça deve seguir a recomendação de dois consultores de um comitê de 18 da ONU, para deixar Lula ser  candidato. Ora, se nem Jesus conseguiu de seus seguidores que sua recomendação fosse seguida, como queria Fachin que o Tribunal Superior Eleitoral do Brasil se subordinasse a dois consultores da ONU, desrespeitando, vergonhosa e humilhantemente, o primeiro inciso do primeiro artigo da Constituição, que é a primeira base do Brasil e que se chama Soberania? Por tanto que já se viu, não custa duvidar.

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