Alexandre Garcia
16 de agosto de 2018 - 15:35

A PARTE DE CADA UM

Começa a campanha eleitoral. Neste ano, de 52 dias. Como escolher em tão pouco tempo? Mudança tem sido a palavra-de-ordem, mas não se mudam os eleitos se não mudarem os eleitores. Em geral, o voto da maioria tem ido para populistas, demagogos e mentirosos, a prometer a felicidade e depois deixam o mandato com o país ainda pior.

Alexandre Garcia

            Começa a campanha eleitoral. Neste ano, de 52 dias. Como escolher em tão pouco tempo? Mudança tem sido a palavra-de-ordem, mas não se mudam os eleitos se não mudarem os eleitores. Em geral, o voto da maioria tem ido para populistas, demagogos e mentirosos, a prometer a felicidade e depois deixam o mandato com o país ainda pior. Desde que nasci, me dizem que o Brasil é o país do futuro, mito cunhado pelo título de um best-seller de Stephan Zweig, o escritor austríaco que se apaixonou pelo Brasil. Passei a vida ouvindo “Brasil, país do futuro”, mas não vi esse futuro chegar. Nem Zweig, que se matou com a mulher Charlotte, em Petrópolis.

            Quando o futuro parece próximo, sempre damos um jeito de afastá-lo, repetindo erros. Não aprendemos com eles e vamos andando em círculo, em geral vicioso, em nossa história. Tenho dito que somos um país masoquista. Temos 175 assassinatos por dia, mais 108 mortos no trânsito diariamente, em acidentes que deixam, a cada dia 658 brasileiros inválidos – e não nos escandalizamos com isso. Encaramos como rotina, como algo normal, certamente num mecanismo freudiano de fuga. Fingimos que a realidade não existe. Fingimos que somos felizes. Agora estamos fingindo que as eleições vão resolver os problemas do país, mesmo os eleitores sendo os mesmos.

            Vamos conviver com a burocracia, com uma carga fiscal pesadíssima, vamos tentar sonegar, vamos tirar vantagem fora da lei sempre que possível, vamos estacionar em lugar proibido, passar no sinal vermelho, atravessar a rua fora da faixa, fazer barulho para o vizinho, jogar sujeira na calçada, vamos comprar contrabando, e se alguém nos chamar de esperto, vamos tomar isso como um elogio. E aí, vamos votar em alguém parecido conosco. Há quem ache normal tudo isso. Por isso vivemos mal. Imagine como vivem bem os europeus, que não têm surpresas desagradáveis, porque é previsível que saiam a passear e não sejam assaltados; é previsível que o evento comece na hora marcada; é previsível que as relações de negócios se concluam dentro da lei.

            É moda falar na insegurança jurídica que espanta investidores estrangeiros. Mas é uma insegurança que vem de baixo, das raízes culturais do país. Também é moda, agora que começa a campanha eleitoral, alertar para as fake news. Mas ninguém se deu conta de que fake news já são praticadas em escolas brasileiras, do básico ao superior, invertendo os costumes e a História, há quatro décadas. Gerações já foram formadas com falsas “verdades” – e se surpreendem quando descobrem que não é possível contrariar a física, a biologia e a realidade dos fatos. Mas a pregação conseguiu enfraquecer de tal modo o país que, na desordem implantada, ficamos à espera da salvação por uma eleição. Atitude cômoda de fuga, quem espera isso sem se perguntar: Qual é a minha responsabilidade nisso?

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