Alexandre Garcia
22 de novembro de 2017 - 14:42

A raiz do crime

Aqui em Portugal os jornais noticiaram com destaque a morte do antigo chefe...

                Aqui em Portugal os jornais noticiaram com destaque a morte do antigo chefe mafioso Salvatore Totò Riina, nascido em Corleone, na Sicília, cidade que inspirou Mário Puzzo a escrever O Poderoso Chefão. Totò morreu na cadeia, um dia depois de completar 87 anos, de câncer nos rins. Foi ele que mandou explodir o carro onde estava, com a mulher, o juiz Giovanni Falcone, da operação Mãos Limpas, tão estudada pelo juiz da Lava-Jato, Sérgio Moro. Os juízes Falcone e Borsellino foram assassinados em 1992 e no ano seguinte Totò estava preso. As autoridades foram ajudadas por delações premiadas, como a de Tomaso Buschetta, preso no Brasil. Totò ao morrer já estava 24 anos atrás das grades, cumprindo 26 condenações a prisão perpétua. Sem direito a tornozeleira ou prisão domiciliar, ou semiaberto. Morreu sem abrir a boca para contar suas ligações com políticos de Roma.
                A Itália é o berço do Direito Romano, que é ensinado a todos os brasileiros que queiram ser advogados. E foi a Justiça italiana que condenou, em todas as instâncias, à prisão perpétua, o assassino de quatro pessoas, Cesare Battisti. Mas ele está livre, porque fugiu para o Brasil com passaporte falso. Ele sabe que aqui é o país da impunidade; por isso foi para o Brasil. Desde menino vejo em filmes americanos que o bandido, para escapar impune, vai para o Brasil. Foi assim com o assaltante do trem pagador inglês, Ronald Biggs. Em vez de ser preso, ficou famoso no Brasil. No Brasil, bandidos ficam famosos. No caso do tetra-assassino Battisti, ganhou a proteção do Presidente da República, Sr. Lula. 
                É o país onde mesmo que a Justiça mande prender, o Legislativo manda soltar. E se argumenta com Montesquieu, com a separação de poderes, autônomos e funcionando como pesos e contrapesos do poder, o que sugere o trocadilho “presos e contrapresos”.  Outros são condenados várias vezes, mas cumprem a pena em casa, dançando em festas – como se divertem com este país festivo! A lei permite que o condenado só cumpra uma sexta parte da pena e já vai saindo das grades. Outros nem querem sair, porque de lá ficam comandando o crime nas ruas, mandando matar os rivais, como fazia Totò antes de ser preso. Depois, ele ficou incomunicável com o mundo. Aqui, não; tem o celular, tem advogados, tem amigos entre autoridades.
                Aqui, assaltante é preso, mas é solto em 24 horas e pode continuar o exercício de sua profissão. É protegido pela lei, por advogados, por militantes dos direitos humanos, pelos que odeiam a polícia. Aliás, muita gente se queixa da insegurança mas odeia os defensores da lei. Muita gente se queixa de bala perdida, mas cheira a cocaína com que se compram fuzis. Muita gente se queixa de que as leis são fracas, mas trata de enfraquecê-las ainda mais, desrespeitando-as sempre que for de seu interesse egoísta e incivilizado. Dá arrepios de pensar que na nossa cultura Totò, quem sabe, pudesse ser candidato à Presidência da República. Parece que vivemos num hospício legal, jurídico, político e de incivilidades.

 

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