Alexandre Garcia
15 de janeiro de 2020 - 14:08

Muito Barulho

A inflação de 2019 foi de 4,31%, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo(IPCA), levantado pelo IBGE.

A inflação de 2019 foi de 4,31%, medida pelo Índice Nacional de Preços

ao Consumidor Amplo(IPCA), levantado pelo IBGE. A meta do Conselho

Monetário Nacional ficava entre 2,75% no mínimo e 5,75% no máximo. A

inflação ficou, portanto, no centro da meta. O centro da meta, rigorosamente,

era 4,25%. A diferença de um acerto no centro absoluto do alvo foi de 0,06 –

seis centésimos de ponto percentual. Se fosse um concurso de tiro-ao-alvo, a

política monetária receberia uma medalha. E a causa de o tiro ficar seis

centésimos acima do centro absoluto do alvo é justa: foi a pressão da demanda

de dezembro, mostrando um reaquecimento da economia. Quer dizer, só boas

notícias.

  Por que então fizeram tanto barulho, abrindo manchetes a dizer que o

dragão da inflação voltou, que ultrapassou a meta e outros catastrofismos?

Suponho que seja pelo princípio do “o que é ruim a gente mostra; o que é bom

a gente esconde; se não houver ruim a gente inventa”. Num tempo em que se

condenam as fakenews, isso é um risco sério para quem depende de

credibilidade para ter leitores e audiência. Mas é a síndrome do escorpião:

afunda junto com o sapo que ferroou, mas é da sua natureza. Tentar apagar o

otimismo renascente é ato de masoquismo, porque se não houver a força da

economia, todos faturam menos, pagam menos e quebram mais.

  No mês de dezembro, a inflação de 1,15%, a maior de um mês para o

ano, é um termômetro do aquecimento que entra 2020, com meta de inflação

fixada em 5,5% no máximo e 2,5% no mínimo, com centro em 4% a.a. Em

meus anos de repórter de Economia, lembro-me bem dos efeitos de uma

inflação de 84% ao mês e 5.000% ao ano. Hoje, menos de 5% a.a. é uma

demonstração do que o Brasil pode fazer. Também poderemos crescer como

na década dos anos 70, na média anual de 8,78% ao ano – um crescimento

chinês, de novo na base do otimismo e do entusiasmo.

  É cheia de consequência políticas e eleitorais a advertência do

assessor de Bill Clinton, na campanha vitoriosa de 1992: “É a economia,

estúpido”. Quando a economia vai bem, a população vai bem, o país vai bem e

o governo recebe os méritos. Identificado esse fator, os opositores precisam

reduzir seus efeitos, mesmo com o sacrifício do país, procurando reduzir o

otimismo, fazendo o barulho que fizeram, inclusive com manchetes sobre

“inflação acima da correção do salário-mínimo” – uma diferença de 4 reais, que

está sendo recalculada. Shakespeare, há quase 500 anos, escreveu “Muito

Barulho por Nada”. Foi a mais divertida comédia do Bardo. Quando gente,

como o escorpião, quer afundar nesta travessia o barco em que todos estamos,

fica parecendo mais uma comédia.

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