Alexandre Garcia
País que não aprende
Todo mundo sabe que quem não aprende com o erro, acaba por repeti-lo. A cultura vigente no Brasil é uma contumaz repetidora de erros.
Alexandre Garcia
Todo mundo sabe que quem não aprende com o erro, acaba por repeti-lo. A cultura vigente no Brasil é uma contumaz repetidora de erros. Por isso veio Brumadinho depois de Mariana. Por isso caem viadutos e encostas; por isso a gente reelegeu Dilma, que demorou uma semana para ir a Mariana. Pelo número de mortos e desaparecidos, essa última tragédia vai cobrar cerca de 300 vidas.
Como sempre nessas tragédias, os bombeiros são os heróis. Por outro lado, ouvi o prefeito de Brumadinho, por ironia do Partido Verde, afirmar no rádio que a prefeitura não tem responsabilidade alguma. Pode não ter responsabilidade legal, burocrática, mas tem responsabilidade moral, porque o poder municipal sempre é o poder mais próximo, em qualquer área do país. No caso de Brumadinho, o poder estadual está em Belo Horizonte e o federal está em Brasília, mas o municipal está ali do lado, ouvindo queixas, denúncias, suspeitas. Embora sem poder de licenças ambientais ou similares, tem o poder de botar a boca no mundo, sempre que escutar o murmúrio de perigo, como aconteceu.
Os engenheiros que atestaram a segurança da barragem foram presos. Dizem que a barragem estava com todos os papeis em ordem, mas rompeu. Aqui na nossa cultura burocrática, acredita-se mais no papel que na realidade. Será que alguém foi à barragem conferir os papeis? Penso nessa preferência pelo papel quando vejo abordagem policial ao carro. Se o freio funciona, se o farol está queimado ou o pneu careca, parece ser menos importante que os malditos papeis.
A Vale vai contratar um marqueteiro para se recuperar. Deveria ter contratado um bom engenheiro para cuidar da barragem, para que as pessoas não tivessem que contratar coveiro. E como aparecem oportunistas para faturar alguma coisa. Um desrespeito às famílias que perderam parentes e aos que perderam tudo. Até um índio todo ornamentado apareceu para dizer que agora não tem como sobreviver. E só agora a gente fica sabendo que existem 3.300 barragens com alto risco de desmoronamento. Parecemos um país masoquista, que sofre por se enganar, mas não aprende.