Alexandre Garcia
Danke Schoen
A semana começou com a Copa do Mundo na Rússia, com a convocação, por Tite, dos jogadores que vão representar o Brasil. Levei um susto...
A semana começou com a Copa do Mundo na Rússia, com a convocação, por Tite, dos jogadores que vão representar o Brasil. Levei um susto. Como passaram rápido esses quatro anos! Parece que foi ontem, aquele 7 a 1 da Alemanha. E o que se passou nesses quatro anos, muito devemos aos 7 gols dos alemães. Já imaginaram se tivéssemos ganho a taça, nos tornando hexacampeões? Pouca gente iria apoiar investigações sobre a corrupção que envolveu a construção dos estádios, nem iria amaldiçoar esses elefantes-brancos que consumiram recursos que faltam para escolas e hospitais.
Naquele ano, a Lava-jato recém havia nascido e se tivéssemos ganho a Copa, ela talvez não sobrevivesse ao clima de euforia de Coliseu. Estaríamos incentivando as crianças a jogar futebol em vez de pensar sobre o futuro que vamos legar a elas. Quando a melhor seleção brasileira conquistou o tri no México, em 1970, foi recebida no Palácio do Planalto pelo Presidente Médici. O país teve o seu milagre econômico, crescendo a ritmo chinês, sem desemprego e o presidente era aplaudido no Maracanã. Se em 2014 o Brasil tivesse conquistado a Copa que hospedou, talvez tivesse continuado o governo Dilma e ninguém lembrasse de 13 milhões de desempregados ou inflação acima de 10%, ou de corrupção na Petrobrás e bancos estatais.
Os imperadores romanos usavam o Coliseu e outros anfiteatros para entreter o povo. Pão e circo – proclamava-se como ideal. Mas se faltasse pão, o circo servia como diversão. Por aqui, isso tem funcionado na medida em que a escola tem poucos resultados. É do interesse dos maus políticos que a população se distraia com o futebol e outras alegrias, enquanto eles desfrutam do pão dos impostos, das estatais, do poder. O esporte também se adaptou a isso; uma equipe já não é a reunião de jogadores que adoram o time em que jogam, mas artistas de um show-business em que a redondeza da bola se transforma na sinuosidade de um cifrão($).
Graças aos alemães, com aqueles sete benditos gols, isso mudou um pouco. Estamos participando das investigações da Lava-jato, apoiando a Polícia Federal e o Ministério Público, escolhendo astros não no estádio, mas no tribunal – e acompanhando julgamentos como acompanhávamos uma transmissão de futebol. Cada vez que um corrupto é condenado e vai para a cadeia, é mais um gol do Brasil. Nossa torcida mudou de interesse, quando a rede de nossos neurônios foi balançada sete vezes pelos alemães. Para retribuirmos a gentileza, usemos a língua deles para agradecer: Danke Schoen, Deutschland!