Alexandre Garcia
26 de setembro de 2018 - 17:16

INEPTOCRACIA

Nesses poucos dias que nos separam das eleições, ouço com mais ênfase que em anos anteriores a preocupação das pessoas com a incompetência da maioria dos que se oferecem como candidatos.

Alexandre Garcia

Nesses poucos dias que nos separam das eleições, ouço com mais ênfase que em anos anteriores a preocupação das pessoas com a incompetência da maioria dos que se oferecem como candidatos. Aí lembro de uma palavra criada pelo acadêmico e filósofo francês Jean D’Ormesson: ineptocracia. Ele é filho de um ex-embaixador no Brasil. Talvez estivesse pensando no Brasil, quando criou a palavra. Numa tradução livre, ineptocracia é “o sistema de governo pelo qual os que nada sabem e pouco produzem põem no poder os que pouco sabem e nada produzem, para que esses administrem os recursos, os bens e os serviços, confiscados daqueles que algo sabem e algo produzem”.

Esse é o sistema praticado por muitos de nossos políticos e aprovado por bom número de nossos eleitores. Que votam na esperança de receber bens e serviços que não são conquistas de mérito, de inteligência, de trabalho, mas brotam de favores prestados por algum político benemérito, que finge tirar esses recursos de seu próprio bolso. Periodicamente eleitores entram em contato com esses beneméritos – um eufemismo para demagogos – trocando o voto pela renovação das promessas. E a cada campanha eleitoral o teatrinho encena a mesma farsa. A plateia aplaude, em nome da esperança. Quer dizer, a esperança também pode alienar.

Ouço a propaganda eleitoral e fico a sonhar num sistema em que o candidato a candidato devesse prestar um vestibular. Faz-se todo tipo de exame para conferir a alguém o direito de dirigir um veículo, mas não se faz um exame para saber se a pessoa está apta a pedir para seus concidadãos uma procuração, que é o voto, para administrar um país, um estado, um município, ou para fazer leis que irão obrigar  a todos. Percebo que candidatos nunca leram a Lei Maior, a Constituição, e dizem as maiores asnices, prometendo coisas que não estão em sua alçada; não sabem que funções terão, quais são seus limites. Não têm ideia de que um cargo público é para servir e não para ser servido.

Se a gente olhar para os últimos anos, vai entender por que o crime cresceu tanto e hoje é ameaça para a democracia e a liberdade; vai entender por que se paga tanto imposto sem ter bons serviços públicos; vai descobrir por que a corrupção se institucionalizou, como forma de governo. Vai perceber que a mentira virou linguagem de muitos dos que detêm mandato; e que a vergonha foi substituída pelo cinismo. Enfim, soam semelhantes a palavra inventada por D’Ormesson e  a cleptocracia definida pelos gregos, e usada no Supremo por Gilmar Mendes, para qualificar a conduta de um partido. Andam juntas, ineptocracia e cleptocracia.

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