Alexandre Garcia
10 de outubro de 2018 - 15:48

ELEIÇÃO INÉDITA

Hoje, depois dos resultados de domingo, pergunto como um candidato sem dinheiro, sem partido, sem marqueteiro, sem tempo no horário eleitoral, e retirado da campanha 30 dias antes da eleição, conseguiu surgir das urnas em primeiro lugar, 18 milhões de votos acima do segundo colocado e perto de decidir em primeiro turno.

Alexandre Garcia

No artigo da semana passada registrei o ineditismo da campanha via redes sociais. Hoje, depois dos resultados de domingo, pergunto como um candidato sem dinheiro, sem partido, sem marqueteiro, sem tempo no horário eleitoral, e retirado da campanha 30 dias antes da eleição, conseguiu surgir das urnas em primeiro lugar, 18 milhões de votos acima do segundo colocado e perto de decidir em primeiro turno. Fez nove vezes mais votos que o candidato que tinha mais dinheiro e maior tempo no horário eleitoral – Alckmin -, e 38 vezes mais votos que o segundo em dinheiro na campanha, Meirelles. E retirado das ruas por uma facada.

Você dirá que a facada ajudou, porque deu no noticiário um tempo geometricamente maior que ele teria normalmente. Mas também precisa considerar que não foi apenas a espontaneidade da iniciativa popular nos movimentos de rua, nas concentrações, nas redes sociais. Os opositores, nos meios de informação, nos meios intelectuais e artísticos o puseram no centro de todas as atenções nos últimos dois meses. Ele foi o sujeito de quase todas as frases, na boca de jornalistas, analistas, artistas, e até nos debates a que não pode comparecer. O nome mais falado e mais escrito na campanha, portanto o mais lembrado, transformado no mais importante. Onipresente, mesmo confinado no hospital e em casa.

Quando Lula foi recolhido para cumprir pena por corrupção, fez a frase:  “Eu não sou um ser humano; sou uma ideia”. A frase de Lula ajuda a entender porque Bolsonaro é um “fenômeno eleitoral”, como constatou minha colega Miriam Leitão na noite de domingo. Bolsonaro é uma ideia, portanto, não pode ser confinado num hospital ou em casa, por uma facada – como a ideia-Lula não pode ser presa atrás das grades. Mas Bolsonaro não é o dono da ideia, nem a fonte da ideia. Ele apenas foi identificado como o vértice, a convergência da ideia de milhões de brasileiros que esperavam encontrar um candidato que representasse o que pensam. Alguém que tivesse assumido os mesmos valores sobre Pátria, família,  moral, costumes, segurança, papel do estado, economia.

As urnas castigaram os profetas, surpreendidos pelos resultados. O nome tão promovido pelos opositores turbinou  outros candidatos: formou bancadas estaduais e federais, senadores e governadores – uma surpresa para os afastados das ruas, auto enganados porta-vozes do povo. A realidade sempre se sobrepõe ao achismo futurológico. Não previam a renovação, o arquivamento de parte da política apodrecida pelo engodo e o fisiologismo, contaminada pelo germe da corrupção. O grande eleitor não foi Bolsonaro, que ainda não foi eleito. O grande eleitor, o grande autor dessa eleição inédita, é o eleitor consciente, participativo, protagonista, que, com o voto, está formando governo e oposição – dois lados essenciais para recuperar o futuro para um país rico empobrecido.

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