Alexandre Garcia
26 de julho de 2018 - 15:02

CHARLATANISMO À SOLTA

A morte da bancária que se submeteu a uma aplicação invasiva de acrílico no ambiente errado e com o profissional errado, chama a atenção para o quanto as pessoas se submetem a riscos, quando poderiam evitá-los.

  Alexandre Garcia

            A morte da bancária que se submeteu a uma aplicação invasiva de acrílico no ambiente errado e com o profissional errado, chama a atenção para o quanto as pessoas se submetem a riscos, quando poderiam evitá-los. E a gente fica se perguntando como e por quê. No caso da vítima, Lilian, de 46 anos, ela viajou de Cuiabá para o Rio, para se submeter a esse tipo de cirurgia não em um hospital ou clínica, onde teria socorro imediato em caso de alguma intercorrência, mas no apartamento de um médico que não tem registro no Rio de Janeiro; e no lugar onde tem registro, Brasília, a licença fora suspensa e ele havia conseguido uma liminar na Justiça. Além do que, o tal Doutor Bumbum, não poderia sequer fazer cirurgia plástica, pois não tinha habilitação para tal. E se formara em Vassouras, estado do Rio.

            Nada disso desperta desconfiança nas pessoas. No Instagram, onde se exibia, o Dr Bumbum tinha 650 mil seguidores. Vi vídeos gravados por ele, supostamente de propaganda. Qualquer pessoa percebe, na mensagem, nos gestos, a personificação de um charlatão. Em uma das tais cirurgias embelezadoras, percebe-se que o procedimento é feito sem que a paciente tire a roupa, quer dizer, nem é eliminado o risco de contaminação do campo cirúrgico. Não há um desfibrilador, um anestesista, para garantir a sobrevivência do paciente, no caso de uma embolia, uma parada cardíaca. E, claro, exame prévio de risco cirúrgico, nem pensar. Numa das mensagens, ele ensina a uma recém-operada esquentar uma tesoura para cauterizar uma sequela do procedimento.

            A mãe do médico é outro personagem importante nessa tragédia. Ela é médica com registro cassado. E trabalham juntos. Um companheiro dela, dizem as notícias, foi encontrado morto a tiro na cama, e o inquérito policial nunca se completou. Parece o Psicose de Hitchcock, em que Alan Bates é a mãe – ou vice-versa. Será Dênis as mãos da mãe Maria de Fátima? Recomendo a leitura de Mentes Perigosas, de Ana Beatriz Barbosa Silva, para tentar compreender essas ações e relações.

            Esse é um caso atual que chama a atenção para outros. Gente que se aproveita do modismo para fazer um parto arriscado em casa – se der errado e o hospital for distante, criam-se riscos para a mãe e o bebê. Procedimentos estéticos e até cirúrgicos inventados pela moda ou por pseudociência, como se espalham fácil pela ignorância, ingenuidade ou desespero das pessoas! Pajés e curandeiros vicejam nesse ambiente. É um tal de mexer com sangue, com linfa, com poções e pílulas milagrosas tudo talvez ajudado pelas redes sociais, que aceitam qualquer doutor bumbum da vida; os doutores da internet, que curam câncer e retardam tratamentos e acabam deixando suas vítimas já sem possibilidade de cura. Nada que a razão, a lógica, a informação, o raciocínio, a desconfiança, não consigam evitar.

Ao vivo