Alexandre Garcia
29 de agosto de 2018 - 08:33

Pena do Brasil

Tento acompanhar a campanha eleitoral, as declarações dos candidatos, suas respostas, suas propostas, as perguntas que lhes fazem...

Tento acompanhar a campanha eleitoral, as declarações dos candidatos, suas respostas, suas propostas, as perguntas que lhes fazem – e chego sempre à mesma sensação de que estou revendo as campanhas anteriores, nesses últimos 30 anos. O assunto é o mesmo, porque os problemas são os mesmos, apenas agravados. E concluo que ninguém resolveu os problemas que existiam em 1989, 1993, 1997, 2001, 2005, 2009, 2013. Sempre a saúde, a segurança pública, os impostos, a previdência, a educação, as estradas, a corrupção, o desperdício, a má administração. Chegamos ao cúmulo de haver político que esteve ou está no poder por anos a fio e não resolveu, e agora está anunciando que pode resolver todos os problemas. Talvez mais grave que isso seja existir milhões de pessoas a acreditar nessas fanfarronices.
Campanhas para presidente e para governador contêm a impostura de candidatos que afirmam que vão fazer isso e aquilo, quando eles sabem que para isso vão depender do voto da maioria da Câmara, do Senado e das Assembleias. Temos um sistema de presidente fraco, sem poderes para cumprir os programas anunciados na campanha. É quase um sistema parlamentar, que está na alma da Constituição de 1988, feita originalmente para o parlamentarismo, mas com emendas presidenciais. Deu esse misto de presidente/governador com cobrança exigida pela expectativa do eleitor, mas dependente de um legislativo poderoso, mas de responsabilidade anônima e não percebida pelo eleitor, que sequer sabe o nome de seu mandatário, para poder fiscalizá-lo e cobrar. O legislador respeita mais os meios de informação que seus próprios eleitores.
E assim vamos, diminuindo a esperança a cada eleição, porque a prática do mandato é bem diferente da teoria da campanha. Um desperdício grande das riquezas deste país-continente. Tanta terra, com um potencial de riqueza ainda imensurável, na superfície e embaixo; tanta força de trabalho que poderia ter qualificação; tanta água, clima tão diverso, um cadinho étnico exemplar. E no entanto, desviam, furtam, desperdiçam, administram mal, não planejam, não estudam. Ontem um candidato a deputado me contou que no diretório do seu partido lhe disseram que o custo da campanha de cada um vai ser de 3 milhões de reais, mas que no primeiro ano já terão conseguido recuperar o investimento. Será que é um negócio e não uma missão, um sacerdócio, um sacrifício altruísta? Dá pena do Brasil.
Tudo isso me oprime, como eleitor, na busca de uma mudança, que não vi acontecer nesses 30 anos. Ao contrário, só vi piorar a corrupção, a saúde, a educação, a situação da previdência, o tamanho dos tributos, a incompetência de um estado cada vez mais gastador e inchado e a popularidade do jeitinho, do egoísmo, da alienação dos valores éticos, a irresponsabilidade em relação ao país. No entanto, continua atual a frase de John Kennedy: “Não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer por seu pais”.

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